Ano é marcado por indicadores positivos na economia de Santa Catarina |
Ruralidades à vista - Onévio Zabot
-
- Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras
Inquietava Tercílio Bilau, sobretudo, o fim do ciclo madeireiro na estrada Bonita. Não escondia este fato. Ao abrir restaurante típico às margens do rio Pirabeiraba, borda de mata, buscava alternativas de ocupação e renda.
A localidade do Rio Bonito, a exemplo de outras em Joinville, teve na exploração da floresta uma fonte preciosa de renda. E, uma das maiores serrarias construída em priscas eras foi a do Príncipe de Joinville. No alto da serra, no Rio do Júlio, Otávio Kreutzfeld, destacava-se. A Consul, um cliente de primeira linha. Caixaria para refrigeradores. E, embora a exaustão das reservas florestais, serrarias familiares resistiam à duras pena. A pá de cal, no entanto, veio com o famigerado decreto 99.547/90, governo Collor. Põe fim ao ciclo madeireiro na Mata Atlântica. Adianta-se José Lutzemberg então presidente do IBAMA à Rio-92. Arma-se o caos. Sinal de novos tempos. Tempos turbulentos. A Carta do Rio Bonito expressa essa angústia.
Mas como diz Dorvalino Furtado, crise tirando o "s" significa oportunidades. O ciclo madeireiro rapidamente ia ficando para trás, mas como aponta o historiador Apolinário Ternes, junto com a erva mate, gerou as primeiras fortunas na jovem Colônia Dona Francisca.
Em face desse novo cenário, o que fazer, quais as alternativas? Produção de grãos, banana e hortaliças. Peixe de água doce. Arroz. Flores e ornamentais. Ou o êxodo. Precisava mais, pois rapidamente esgotava-se a fronteira agricultável. De outro lado a cidade pressionava, avançava sobre o perímetro rural. Lideranças na ACIJ -, fórum privilegiado de debates -, dividiam-se: atrair mais empreendedores ou conter o avanço desordenado. Área de serra e mangues, sistemas frágeis, risco ambiental à vista. Restava espaço nos municípios vizinhos, via de regra, ávidos por empreendedores. A oferta de água potável, no entanto, um fator limitante, certamente, dada a exiguidade dos mananciais.
Ainda na década de 1980, percebe-se a importância do turismo como atividade geradora de renda e emprego. Blumenau sai na frente. Atratividade urbanas predominavam, entretanto. O ambiente rural - um tesouro -, começava a despontar. E justamente na estrada Bonita, surge a primeira iniciativa comunitária. Modelo familiar. Na outra ponta, hotéis fazenda consolidavam-se no planalto serrano. Há um novo cenário em curso. Incipiente, mas vigoroso.
Hoje, no mundo todo, o universo rural, as ruralidades... ambiente natural, cultura, lazer e gente alegre, atraem o homo urbanus. O ócio criativo no dizer de Domenico de Measi, o impulsiona.
A urbanização, sabemos, entrincheirou as pessoas, no que pese a criatividade dos urbanistas. A pandemia escancarou este cenário sombrio. A verticalização crescente sufoca, daí a busca por alternativas, por qualidade de vida. Nesse aspecto, praias e rios e paisagens rurais, tornam-se ambientes cada vez mais disputados. A forma pouco ordenada dessas entradas, via de regra, resultaram e resultam em caos: lixo, sobrecarga, insegurança.
A organização do setor, as políticas públicas, tornaram-se não só necessárias, mas, sobretudo, obrigatórias. Embasamento legal, programas e projetos, gradativamente, são implementados. Em Joinville, ainda em 1998, é elaborado o Plano de Desenvolvimento de Turismo no Espaço Rural, iniciativa da PROMOTUR e da Fundação Municipal 25 de Julho.
No mais a prefeitura limitou-se a divulgar atratividades do que propriamente estabelecer ações efetivas de suporte. Não foi diferente com a SANTUR em nível de estado. Afora os roteiros -, atitude ousada - carecemos de coisas simples. Sinalização, por exemplo. Muito, certamente, há por se fazer.
Um fato marcante, no entanto, ocorreu no último dia 18 de agosto último, fato que tende a impulsionar o setor: trata-se do lançamento oficial da nova logomarca do turismo rural e, tão ou mais importante: um portal apresentado um rol de empreendedores com suas respectivas atratividades. Portal do turismo rural. Uma dádiva. Seguem a pegada do Viva Ciranda, um case de sucesso. Gesto ousado dos empreendedores. Unem-se na Associação de Turismo Eco Rural de Joinville, e, ao invés de apenas reclamar, planejam. Compartilham. Ousam.
Estrutura-se com isso a cadeia de turismo sobre novas bases: planejamento estratégico com ações de curto, médio e longo prazo. As redes sociais, obviamente, potencializam oportunidades. Em nível regional, mais sinergias: a Epagri institui oficialmente um projeto de turismo rural abrangendo o triângulo Itajaí, Blumenau e Joinville. Visa consolidar potencialidades, capacitar, motivar, esclarecer e interagir, escudada entre outras ferramentas no crédito rural.
Tercílio Bilau e Vilmar de Souza, o popular Fumaça, devem estar aplaudindo lá do alto para estes aficionados empreendedores. Novos tempos à vista, portanto. A união faz a diferença. E a clientela - gratificados -, aplaudem. Alvissaras!
Joinville, 20 de agosto de 2021
Deixe seu comentário